terça-feira, 17 de julho de 2012

Apanágio


Transpondo a existência paralisada
num instante gélido e compacto.
Nómada pela berma da estrada
vai a sombra fugindo do seu fado.

Desliza sobre si estranho ar abafado
é a morte da vontade trauteada.
Corre-lhe nas veias o sangue embriagado
descai-lhe aos pés em altivez atracada.

Ao que arbitra ter e não encontra
sol de pouca monta o pretende, almejado
é o momento de voltar ao renegado.

Volta e meia depressa se dá conta
que fugir não passa de presságio.
A vinda precavida peia a treva em apanágio.



segunda-feira, 16 de julho de 2012

Entre o meu e o seu



Fiquei no meio de nenhures
À beira do precipício
Vislumbrei algures
O instante propício

Para fugir de mim

Indaguei um instante
A minha sobrevivência
Descobri-me farsante
Tamanha a pertinência

Por fugir de mim

Aproximei-me da beira
Hesitando enfim
Segredou-me a asneira
Queres que seja assim

Fugires de ti

Dei dois passos atrás
Segurei-me na razão
Saltar não fui capaz
Coisas do coração

Encontrei-me por fim

Na sombra que estava ao lado
Ao meu peito ofegante
O sorriso do meu fado
Desnudou-se confiante

O retorno deu-se assim

Sequer o salto foi dado
Sequer reneguei paixão
Por fim caminho traçado
Entre o meu e o seu por condão


terça-feira, 10 de julho de 2012

Amor amigo



Pega-me ao colo
Quero adormecer no embalo
Dos dias pequenos
Tudo é de menos
Quando a saudade ocorre

Corre apressada a vida fugidia
Perde-se tempo, o que não temos
Os cabelos brancos são de neve macia
A curvatura das costas relembra que somos
Sombras frágeis e fugidias

Numa passagem emprestada
Numa força que não é nossa
Vivemos
Esquecemos que a encosta
É fácil de subir
Depressa chega o dia de partir

Por isso pega-me ao colo
Afaga os meus cabelos
Adormece comigo
Amanhã meu amor amigo
A passagem descampou
Só um chorará o instante olvido